INSUFICIÊNCIA RENAL CRONICA
Se caracteriza pela presença persistente por pelo menos 3 meses de alterações funcionais ou estruturais dos rins, que se manifesta por:
- Indicadores de lesão renal, como laboratórios de sangue e urina, estudo de imagem ou biopsia, independente da taxa de filtração glomerular (TFG).
- TGF menor de 60ml/min por 1,73m2 de superfície corporal.
Os estágios 1 e 2 não se define como IRC, somente tem risco de uma redução progressiva da TFG.
Os estágios 3 e 4 se define como IRC inicial e tardia, e estado 5 falha renal, uremia ou IRC terminal.
Desde o ponto de vista clinico a diminuição progressiva da TFG secundaria a perda irreversível das néfrons funcionantes, independente da causa, se manifesta inicialmente por uma elevação persistente dos níveis plasmáticos dos produtos que normalmente se excretam pelos rins, como BUN e a creatinina. Conforme a progressão da lesão aparecem outras alterações laboratoriais e finalmente, manifestações clinicas. A síndrome urêmica se refere ao conjunto de sintomas e signos que ocorre em etapas avançadas da IRC (FG inferior a 10-15 mL/min) e que reflete uma disfunção generalizada de todos os órgão e sistemas secundário a uremia.
Freqüência e etiologia
Na Espanha a prevalência em adultos é de 9,16% (0,99% em estagio 1; 1,3% estagio 2; 5,4% estagio 3a; 1,1% estagio 3b; 0,27 estagio 4; 0,03% estagio 5).
A nível mundial a causa mais frequente de IRC terminal é a nefropatia diabética. Em pacientes de etnia negra são mais suscetíveis a IRC secundaria a diabetes ou hipertensão.
Patogenia e fisiopatologia
A perda de néfrons da IRC se acompanha de uma diminuição progressiva da função renal, o que resulta em:
- Alteração do equilíbrio hidroeletrolítico e acidobásico.
- Acumulação de solutos orgânicos que normalmente são excretados pelos rins.
- Alterações na produção e metabolismo de hormônios, como a eritropoetina e vitamina D.
O mecanismo de compensação dos rins torna o paciente assintomático mesmo perdendo 70% da massa renal.
As néfrons permanentes se tornam hiper funcionantes, o que compensa parcialmente a diminuição da FG. Quando o numero de néfrons funcionantes alcança níveis critico, o mecanismo de compensação se torna insuficiente e produz alterações bioquímicas e clinica de síndrome urêmico.
A hipertensão capilar glomerular danifica o glomérulo diretamente e também por aumento da síntese de citocinas capazes de induzir a proliferação e fibrinogênese. estas alterações se traduz em hipertrofia glomerular e, finalmente, glomerulosclerose.
Outros fatores secundários que contribui a progressão da lesão renal inclui:
- Proteinuria.
- Hipertensão arterial.
- Lesões tubulointersticial.
- Hiperlipemia.
- Tabaquismo.
- Outros fatores: Anemia, hiperuricemia, acidose e alteração do metabolismo mineral.
Alterações do equilíbrio hidroeletrolítico e acidobásico:
- Excreção de sódio e água:
- Quando mecanismo de compensação se torna insuficiente, os rins não pode excretar cargas excessivas de sódio e produz sobrecarga de volume, hipertensão arterial e edema.
- Quando a ingesta de água é excessiva pode produzir sobre hidratação e hiponatremia devido a incapacidade de produção de urina pelos rins.
- Excreção de potássio:
- Se produz hiperpotassemia, quando os mecanismos de compensação se tornam insuficientes.
- Excreção de hidrogênio:
- Quando a FG diminui a menos de 30 mL/min, os mecanismos de compensação se tornam insuficientes e pode começar a produzir retenção de hidrogeno e acidose metabólica.
- Excreção de acido úrico e magnésios:
- Pacientes com IRC tem tendencia a reter acido úrico e magnésio devido a diminuição da capacidade de excretar-los.
- Metabolismo de cálcio e fosfato:
- É anormal em pacientes com IRC, o que ocasiona vários tipos de lesão óssea, denominadas osteodistrofia renal. Conforme progressa a IRC, a excreção renal de fosfato diminui e produz retensão.
- A hipocalcemia se deve a precipitação de cálcio junto com o fosfato e a diminuição da produção do numero de néfrons funcionantes e por efeito direto da sobrecarga de fosfato no túbulo proximal.
- A síntese de PTH (hiperparatireoidismo secundário) tende a normalizar os níveis séricos ao diminuir a reabsorção de fosfato.
- Ainda que este mecanismo de compensação possa normalizar a calcemia e a fosfatemia por um tempo, induz a complicações como osteites fibrosa quística (tipica de hiperparatireoidismo). outra possível complicação é a osteomalacia (secundaria a deficiência de vitamina D).
Acumulação de solutos orgânicos:
- Na IRC se acumula varias sustâncias que normalmente se excretam pelos rins, como os produtos do catabolismo proteico. As toxinas substancias que contribui na disfunção que se observa na síndrome urêmica.
- A ureia é uma substancia de baixo peso molecular e solúvel na água que interfere com os mecanismos de controle do volume celular e a regulação extrarrenal do potássio ao inibir o contransportador NA-K-2Cl dos eritrócitos, também inibe a síntese de oxido nítrico nos macrófagos.
- As guanidinas, grupos de metabolitos da arginina que inibe a produção de superoxido pelos neutrófilos e a resposta dos linfócitos Killers.
- A PTH causa uma disfunção celular generalizada ao aumentar a concentração de cálcio intracelular e entre seus efeitos inclui alterações da permeabilidade da membrana celular, estimulo do catabolismo proteico e calcificação nos tecidos.
Alterações da produção e metabolismo hormonal:
- Os rins produz normalmente eritropoietina e vitamina D ativa. A diminuição da produção de estes hormônios tem papel importante no desenvolvimento de anemia e enfermidades ósseas. por outro lado vários hormônios peptídica, como a insulina, glucagon, gastrina, calcitonina e PTH, são catabolizados nos rins. Por tanto, na IRC aumenta os níveis plasmáticos e se prolonga a vida media de estes hormônios.
Quadro clinico
A IRC em fase inicial é assintomática. Em fases mais avançadas (geralmente FG é menor a 10-15ml/min) aparece sintomas como, mal estar general, debilidade, insonia, anorexia, náuseas e vômitos matutinos.
Manifestações cutâneas:
- Em IRC avançada:
- Paciente se encontra pálido terroso característico. A palidez se relaciona com a anemia e o aspecto terroso com a tendencia a hiperpigmentação.
- Nas unhas observa desaparição da lunula.
- Cigarrilha generalizado.
- Neve urêmica em IRC avançada (infrequente).
- Equimose e hematomas (infrequente).
Manifestações cardiovasculares:
- Hipertensão arterial.
- Hipertrofia ventricular esquerda.
- Insuficiência cardíaca.
- pericardites urêmica.
Manifestações pulmonares:
- Edema pulmonar (de origem cardiogênica).
- Edema pulmonar (não cardiogênica).
- Pulmão urêmico (infiltrados de tipo alveolar em regiões perihiliar que se assemelha a asas de mariposa).
- Infecções pulmonares.
- Fibrose e calcificação parenquimatosas.
Manifestações neurológicas:
- AVC.
- Encefalopatia urêmica (caracterizado por insonia, incapacidade para concentra-se, alterações da memoria, confusão desorientação, labilidade emocional, ansiedade, depressão e alucinações).
- Disartria, tremor e miclonias.
- Em fases avançadas:
- Hiperreflexia.
- Clonus patelar.
- Sinal de babinski.
- Em eletroencefalograma:
- Lentescimento difuso da atividade cerebral e tendencia a paroxismo de ondas lentas.
- Neuropatia periférica.
- Afecções das extremidades inferiores distalmente e progressão lenta.
- Alterações sensitivas:
- Síndrome da perna inquieta.
- Dor queimante nos pés.
- Alterações motoras:
- Debilidade das extremidades.
- Marcha instável.
- Diminuição dos reflexos osteotendinosos.
- SNA:
- Hipotensão postural.
- Sudoração.
- Impotência.
- Reposta anormal a manobra de valsalva.
Manifestações digestiva:
- Anorexia, náuseas e vômitos (em uremia avançada).
- Fedor ureico (halito com olor amoniacal urinoso acompanhado de um sabor metálico na boca).
- Lesões inflamatórias e ulcerativa.
- Diverticulites.
- Pancreatites.
Manifestações imuno-hematológicas:
- Alterações das series vermelhas, brancas e plaquetárias.
- Anemia (normocítica normocrômica e hipoproliferativa).
- Deficiência de ferro.
- Deficiência vitamínica.
- Hemorragia espontânea de órgãos (rara).
- Ulcera péptico.
- Alterações do metabolismo ósseo e mineral associada:
- Alterações bioquímicas nos níveis de cálcio, fosfato, PTH e metabolismo de vitamina D.
- Alterações do turnover ósseo, mineralizações, volume, crescimento linear e força.
- Calcificações vasculares e de tecido brando.
- Alterações mineral (osteofilia renal):
- Hiperparatireoidismo.
- Osteomalacia.
- Enfermidade óssea adinâmica.
- Lesões mistas.
- Osteosclerose.
- Osteoporose.
- Retardo do crescimento em crianças.
- Osteodistrofia (com dor óssea ou fraturas).
- Ostites fibrosa quística (pelo turnover ósseo acelerado).
- Lesões escleróticas (nas partes superior ou inferior das vértebras).
- Osteomalacia por turnover lento.
Manifestações endocrinológicas e metabolitos:
- Disfunção sexual (elevação da FSH, LH e LH-RH, e diminuição de testosterona em homens e de progesterona em mulheres).
- Em homens:
- Impotência.
- Atrofia testicular.
- Diminuição de espermatozoides.
- Em mulheres:
- Amenorreia.
- Dismenorreia.
- Diminuição da fertilidade.
- Hiperprolactinemia.
- GH em níveis elevados.
- Elevação de cortisol e catecolaminas.
- Pseudo diabetes azoemica.
- hipoglicemia.
- Hiperlipemia (elevação de triglicéridos e VLDL, diminuição de HDL).
- Diminuição da síntese de proteína e aumento do catabolismo proteico.
Diagnostico
Se realiza facilmente mediante a demonstração de indicadores de lesão renal e ou uma diminuição persistente (durante mais de 3 meses) e irreversível da TFG (Ex.: níveis de creatinina sérica elevado).
Importante avaliar:
- Identificação e tratamento de fatores reversíveis que podem contribuir a disfunção renal.
- Avaliação da gravidade da IRC a traves da medicação de aclaramento de creatinina ou calculo da TFG, magnitude da proteinuria.
- Identificação de complicações da IRC.
- Identificação de enfermidades concomitante.
A progressão da IRC se pode avaliar mediante a presença de certos fatores demográficos e clinicas associados a uma redução rápida da FG:
- Causa da IRC (ex.: nefropatia diabética, etc.).
- Fatores não modificáveis (como idade avançada, sexo masculino, raça negra e nível basal de FG mais baixo).
- Fatores modificáveis (hipertensão arterial, diabetes descontrolada, proteinuria, hipoalbuminemia).
Tratamento da IRC
- Inicial com dieta e fármacos.
- Fases avançadas (TFG menor de 10-15 mL/min) com dialise ou transplante renal.
- Tratamento conservador:
- Tratar a causa da IRC.
- Prevenir ou tratar as complicações.
- Prevenir ou tratar as enfermidades concomitantes.
- Preparar adequadamente ao pacientes para inicio do tratamento como dialise ou transplante renal.
Metas do tratamento dos pacientes com IRC. |
Intervenções que retransam a progressão da enfermidade renal crônica
- Controle Hipertensão arterial.
- Uso de IECA e ou ARAII.
- Controle da glicemia em diabéticos.
- Diuréticos (preferente os de alça, tiazidas efetivos no estagio 1-3 da IRC).
- Dieta hipoproteica (0,8-1,0g/kg por dia).
- Correção da anemia, hiperuricemia, acidose, hiperlipemia e a alteração do metabolismo mineral.
Prevenção e tratamento das complicações da IRC
- Controle da alteração do metabolismo hidroeletrolítico e acidobásico:
- Restringir sódio a 2g/dia ou 5g/dia de cloruro de sódio.
- Furosemida.
- Ingesta moderada de água (ex.: 1,5L/dia).
- Ingesta de potássio (1500-2700mg/dia).
- Diuréticos de alça ou resinas de intercambio iônico.
- Correção da acidose metabólica (administração de bicarbonato de sódio).
- Controle do metabolismo de cálcio e fosfato.
- Correção da anemia com eritropoietina.
- Terapia com luz ultravioleta.
- Tratamento sintomático com anti-histamínicos H, e pomadas analgésicas.
- Importante tratar os fatores de risco cardiovascular.
- Dialise (em pericardite urêmica):
- Glucocorticoides ou AINE.
- Dialise.
- Transplante renal.
- Dialise.
- Eritropoietina α e β (ação curta).
- Darbepoetina e ativador continuo do receptor da eritropoietina (CERA) de ação larga.
- Administra ferro PO ou IV (poara manter ferrina superior a 100ng/mL e saturação de transferrina superior a 20%).
- Disfunção plaquetária:
- Corrigir a anemia aguda com transfusão de sangue ou de forma cronica com eritropoietina.
- Administrar desmopressina ou infundir crioprecipitados.
- Administrar estrógeno conjugado.
- Reduzir a azoemia com hemodialise ou dialise peritoneal.
- Dieta restringida de fosforo (800-1000mg/dia) e quelantes de fosfato.
- Contender cálcio, como carbonato ou o acetato de cálcio.
- Limitar a ingesta total de calcio elemental a menos de 200mg diário.
- Ergocalciferol (deficiência de vitamina D quando os valores de 25-hidroxicolecalciferol são inferiores a 30ng/mL.
- Calcitriol 0,25-0,50ug/dia, alfacalcidol ou paricalcitol (em deficiência de vitamina D ativa).
- Cinacalcet (aumento alostericamente a sensibilidade dos receptores sensores de cálcio das paratiroides.
- Paratireoidectomia indicada em pacientes com hiperparatireoidismo grave associado com hipercalcemia e ou hiperfosfatemia, calcifilaxia e concertações de PTH superior a 500pg/mL (o tratamento consistente em paratireoidectomia subtotal ou total com implantação de uma porção de glândula paratireoidea, geralmente no antebraço).
- Maximizar a dose da dialise e corrigir a anemia (para disfunção sexual).
- Hiperlipemia:
- Dieta.
- Mudança do estilo de vida.
- Hipolipemiantes (como as estatinas);
Prevenção e tratamento das enfermidades concomitantes
Cardiovasculares:
- Dose baixa de acido acetilsalicílico 100-300mg/dia.
Diabetes:
- Gliquidona;
- Glipizida.
- Gliclazida
- Suspender metformina.
Preparação para a terapia renal substitutiva
Uma adequada preparação inclui:
- Informações sobre diferentes tratamentos.
- Preservar veias antecipado para colocação de acesso vascular para hemodialise.
- Trabalho social para preparar a logística.
- Colocação de um acesso vascular para hemodialise, preferente uma fistula arteriovenosa, ao menos 6 meses antes, em um enxerto 3-6 semanas de antecipação.
- Colocação de um cateter de dialise peritoneal 2-4 semanas antes do inicio da dialise.
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